Arte e cultura, para que afinal?
O tempo passa, a humanidade "avança" (pelo menos deveria avançar), mas em pleno século XXI algumas questões voltam a tona permeando muitas vezes de forma improdutiva a pauta dessas discussões. Infelizmente no que se refere à cultura e a arte, o teor desses debates tem se acalorado dia a dia, inclinando-se muitas vezes para um caminho improdutivo.
Durante séculos as manifestações culturais sofreram grandes represálias por parte de líderes e instituições sanguinárias, em grande parte pelo modo questionador, criativo e de mobilização, que sempre possuiu.
Esse poder impulsionou identidades e contribuiu amplamente para a evolução da humanidade como um todo. Não é raro, que muitas vezes a arte e a cultura, nas suas mais variadas forma de expressão, sempre foram acompanhadas de perto pelos "donos do poder", para uso de interesses próprios, na maioria das vezes espúrios por parte desses impérios.
Fonte imagem: Blog arte clássica
Mesmo as sociedades tribais já fizeram da arte e das manifestações culturais, um mecanismo para reafirmar suas crenças e mitos, assim como reis da idade média e a própria igreja também se apropriaram fortemente da sensibilidade artística e cultural para direcionar os seus anseios.
Mas afinal, para que serve a arte e a cultura? Essa pergunta remete a inúmeras respostas, todas elas quase sempre dotadas de ideologia, paixão e muito receio, em grande parte delas geram respostas desassociadas daquilo que por si só deveria ser uma resposta simples e direta para esse questionamento. Deveria ser natural pensarmos que arte e cultura existem pela própria necessidade humana de "ser", e de se expressar. Não é fruto de nenhum capital econômico, político ou ideológico, mas da natureza simples, pura, vital e ancestral do ser humano de se conectar com algo maior, de expor sentimentos e percepções.
Por esse modo, as produções culturais e artísticas nunca lidaram bem com a submissão, pelo contrário, sempre transgrediram, questionaram e impulsionaram mudanças ao longo dos tempos. Por muitas vezes foram usadas para maus propósitos, mas o certo é que, não é da sua natureza destruir e odiar. Ela pode sim, impactar, incomodar, transtornar, mas nunca na sua essência manifesta o desejo de eliminar ou neutralizar algo ou alguém. Isso, simplesmente porque a arte e a cultura são o próprio vigor humano em ação, a vibração, o movimento e a expressividade, fazem parte da própria natureza da vida humana.
Ghadyego Carraro é músico, educador e historiador.
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